Por Marcos Porto
É impossível abordar o tema da
Teologia Ambiental sem mencionar a questão da providência divina e a
responsabilidade de preservação da criação que esta nos impõe. Acerca disto,
faremos uso da obra de Erickson, teólogo sistemático cujos ensinos continuam
atuais, para ele se a criação é a obra geradora de Deus em relação ao universo,
a providência é seu relacionamento contínuo com este. Por providência entenda-se
a ação contínua dele pela qual preserva a existência da criação por Ele
realizada e a dirige para os propósitos que designou para ela. Do latim providere
que, literalmente, significa prever. Porém, envolve mais que o mero
conhecimento do futuro. Traz a conotação de agir com prudência ou fazer
preparativos para o futuro. É central para a condução da vida cristã. Logo,
somos capazes de viver na certeza de que Deus está presente e ativo em nossa
vida. Vivemos sob seus cuidados e, portanto, podemos encarar o futuro de forma
confiante, sabendo que as coisas não acontecem por mero acaso. Podemos orar,
sabendo que Deus ouve e age de acordo com sua vontade e atende às nossas
orações. Podemos enfrentar o perigo, sabendo que ele não está alheio,
despreocupado[1].
Há dois aspectos sob os se
deve observar a providência. Um é a obra divina para preservar a existência de
sua criação, sustentando-a e mantendo-a; isso em geral é denominado preservação
ou sustento. O outro é a atividade divina que guia e dirige o curso dos
acontecimentos para que cumpram o propósito que ele tem em mente. Isso é
denominado governo ou providência propriamente dita. A preservação e o governo
não devem ser tratados como atos totalmente separados de Deus, mas como
aspectos distintos de sua obra única[2].
Abordaremos apenas o primeiro aspecto.
A Bíblia aborda, em várias
passagens, o tema de que Deus preserva sua criação como um todo. Em Neemias
9.6, recebemos de Esdras a seguinte constatação “Só tu és SENHOR; tu fizeste o
céu, o céu dos céus, e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares
e tudo quanto neles há, e tu os guardas com vida a todos; e o exército dos céus
te adora”. Ainda no Antigo Testamento, no Salmo 104 vemos um relato da criação e
do cuidado de Deus em provê-la, sob o aspecto do entendimento dos salmistas.
Ordenas a escuridão, e faz-se noite, na qual saem todos os animais da selva. Os
leõezinhos bramam pela presa, e de Deus buscam o seu sustento[3].
Quanto ao Novo testamento,
tanto Paulo na carta aos Colossenses como o autor de Hebreus afirmam que Cristo
participa tanto na Criação de tudo como na continuidade dela “E ele é antes de
todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. Colossenses 1:17” e “O
qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e
sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si
mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas
alturas. Hebreus 1:3”. Isto nos leva a afirmar que a os autores das Escrituras
enxergam a mão preservadora de Deus em todo o lugar.
Agora a questão que resta é
qual o papel da humanidade nisto? Para tanto, devemos nos remeter a mesma
Doutrina da Criação que originou o início deste artigo, mais especificamente na
parte em que ela aborda o significado teológico da criação humana por Deus. Com
esta porção da teologia sistemática, podemos aprender:
O fato de o ser humano ter
sido criado significa que não possui existência independente. Ganhou vida
porque Deus assim desejou que existissem e agiu para trazê-los à existência.
Isso nos devia fazer perguntar o motivo de nossa existência. Como não
existiríamos sem sua Vontade, devemos tudo o que somos e temos a ele;
Os seres humanos fazem parte
da criação. Mesmo sendo completamente diferentes dos outros seres, não são
distintos deles a ponto de não terem nenhuma relação com os mesmos. São
participantes da sequência da criação do mesmo modo que os outros seres. Ao
inserir a humanidade em um dos dias da criação relatados no Gênesis, os liga de
forma cabal a todos os seres criados por Deus. Isso nos indica que deve haver
harmonia entre os seres humanos e as outras criaturas.
Essa afinidade, se observada
de maneira séria, tem um impacto definido sobre nossa relação como todo o
mundo. A ecologia, então, encontra sua relação com a teologia e este termo
passa a ter seu significado ampliado. Ela deriva de oikos, “casa”. Isto denota a ideia de uma grande família da qual
fazemos parte e em cuja qual, todas as atitudes da humanidade influenciam a
vida de todos os outros, verdade dolorosamente clara que podemos perceber com a
crescente poluição, desmatamento, extinção de espécies e outros danos ao
planeta, a despeito de toda preocupação com o meio ambiente atualmente.
E por fim, se considerarmos os
versículos 28-30 de Gênesis 1:
“E Deus os
abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e
sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre
todo o animal que se move sobre a terra. E disse Deus: Eis que vos tenho dado
toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a
árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento. E a todo o
animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há
alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi. E viu Deus
tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o
dia sexto”.
A manutenção da
existência e perfeição da Criação recai sobre o mesmo ser humano que recebe a
ordem divina de sujeitar e dominar sobre a terra. Entretanto, A expressão do Gênesis
“dominai a terra” é que teria sustentado a postura de devastação sob a desculpa
de progresso que levou à crise ecológica. Renan Dall’ Agnol e Dr Leomar
Brustolin, realizaram um pesquisa para verificar como esse versículo bíblico
possibilita tanto a ética do cuidado, quanto a exploração natural além de apresentarem
os aspectos teológicos que promovam a ética do cuidado, indispensável perante
os problemas ecológicos atuais e vindouros. Neste sentido, a teologia ambiental
busca restituir o simbolismo exegético do relato da criação para propor o
cuidado pelo cosmos, no qual o ser humano não é dono e sim criatura
verdadeiramente livre e responsável pelo mesmo[4].
Bibliografia:
AGNOLL, Renan Dall’. e
BRUSTOLIN, Leomar Antônio. Salvar a
terra: a contribuição da Teologia para a ética do cuidado na ecologia. Faculdade
de Teologia, PUCRS. X Salão de Iniciação Científica PUCRS.
BOFF, Leonardo. Ecologia –
Grito da Terra, Grito dos Pobres. São Paulo: Ática, 1999.
ERICKSON, Millard. Introdução
à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova , 1997.
MOLTMANN,
Jürgen. Deus na Criação: Doutrina Ecológica da Criação. Petrópolis:
Vozes, 1993.
SILVA, Vanusa de Oliveira. E
AGOSTINI, NiloÉtica Ambiental: uma
análise de integração “Deus-ser humano-natureza”. Acessado em Junho de
2012. Disponível em http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2006/Resumo 2006/CTCH/TEO-OK/Vanusa
de Oliveira Silva.pdf
http://marciorosa.wordpress.com/2008/03/01/por-uma-teologia-ambiental
http://www.metodista.br/fateo/noticias/compromisso-com-o-meio-ambiente-faculdade-de-teologia-da-inicio-a-projeto-ambiental
[1]
ERICKSON, Millard. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova ,
1997. p.169-170.
[2]
ERICKSON, Millard. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova ,
1997. p. 170.
[3]
Salmos 104.20-21.
[4]
AGNOLL, Renan D. BRUSTOLIN, L. A. Salvar
a terra: a contribuição da Teologia para a ética do cuidado na ecologia. Faculdade
de Teologia, PUCRS. X Salão de Iniciação Científica PUCRS.